Quando pela primeira vez voou, não se esqueceu de sentar na carlinga, ao seu lado, ao lado do seu coração, aquela que dali em diante seria a companheira de todos os dias, a companheira indefetível de todos os aviadores: a Morte.
Mas um dia começou a pensar que aquilo assim não tinha jeito: queria ver o céu coalhado de asas como o mar de velas, queria ver asas por toda a parte. O homem podia lá estar à mercê dos espasmos da Natureza, dos seus caprichos, dos vendavais, dos nevoeiros, das manias de um motor?! Podia lá ser! Revoltado, franze a testa, encrespa as sobrancelhas, reflete, pesa os prós e os contras, resolve-se... e lá vai ele à conquista da sua nova quimera, do seu novo velo de oiro!
Havia de inventar um motor perfeito, sem caprichos nem manias; das suas mãos sairia resolvido o árduo problema. Não teria sossego nem descanso enquanto não conseguisse animar com o poder da sua inteligência e da sua vontade a inércia do ferro e do aço, enquanto não desse forma palpável ao seu novo sonho, ao seu poderoso sonho de orgulho, do trágico orgulho humano que desencadeia as avalanchas e arremessa sobre as cabeças erguidas os maus destinos à espreita.
Trabalhou dia e noite. Fugiu dos camaradas, do bulício do mundo e das suas tentações. Como um trapista na sua cela, encerrou-se no seu grande desejo, e teimou,