As Máscaras do Destino - Cap. 7: O INVENTOR Pág. 56 / 80

Realizara os seus sonhos, todos os seus sonhos! Que havia mais agora?... Já os homens podiam sulcar os ares sem medo aos vendavais, às cóleras brutais da Natureza; já o céu se podia coalhar de asas como o mar de velas. Todo o homem poderia ter, sem perigo e sem riscos, a cobiçada sensação de comandar nos elementos como um semideus. À ideia de toda a gente andar lá por cima com a tranquilidade de quem rola de elétrico, o seu sorriso de gavroche(*) doutros tempos, deu-lhe ao rosto a maliciosa e amarga expressão de quem ousa tocar num mistério sagrado e pueril.

[(*) Gavroche – personagem do livro de Vítor Hugo “Os Miseráveis”, era uma rapazinho órfão que liderava e tomava conta dos rapazes órfãos e pobres de Paris.]

Sem riscos?... Sem perigos?... A ideia que a princípio o fizera sorrir, trouxe-lhe agora à mente um mundo de coisas em que nunca pensara. Sem riscos?... Sem perigos?... Pôs-se em pé de um salto. A frase, assim, nua e crua, revoltava-o. Num relance, abrangeu todo o alcance da sua obra, do seu esforço titânico, de tudo quanto tinha realizado. Ah, não! Isso não! Mas era uma cobardia, afinal, o que ele tinha feito, o que ele alcançara depois de dias e noites de um trabalho de gigante. O seu grande invento, donde tirara toda a sua soberba, onde filiara todos os seus cálculos de ambição e de glória, não passava, afinal, de uma má, de uma feia ação, de uma cobardia! Um aviador, um cavaleiro sans peur et sans reproche, que toma posse do céu, que abre as asas gloriosas sem riscos, sem perigos, como um simples burguês que rola de elétrico cá por baixo?! Um aviador que não brinca, sorrindo, com o seu mau destino; que não vence com um piparote as horas más, as tirânicas forças da Natureza sempre em luta, terrível descobridora





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