As Máscaras do Destino - Cap. 8: AS ORAÇÕES DE SOROR MARIA DA PUREZA Pág. 62 / 80

..!»

Mariazinha sorria calada, e o sorriso iluminava-a toda. junto à grade, o vestido era uma opala a desmaiar...

«Não dizes nada? Porque te calas? Não há ninguém que nos oiça! E quem nos entenderia?! As minhas palavras só podem ungir os teus ouvidos, óleo santo que os teus sentidos recolhem como um orvalho do céu. Gosto tanto de ti! O meu amor já veio comigo quando eu nasci, entrou-me no peito como uma pomba e lá fez o ninho! Na minha boca andou sempre o teu sorriso, nos meus olhos o teu olhar, e foram os teus pés, maravilhosas flores de brancura, que traçaram a pétalas o caminho para eu vir ter contigo. Andei anos a procurar-te e achei-te! Procurar-te era achar-te já. Estavas comigo em espírito, divino espírito que se fez carne para me salvar! Maria!»

Mariazinha cruzava as mãos brancas no peito, num gesto brando, magoado e tímido; parecia uma andorinha que, ao cair da noite, no beiral onde tem o ninho, recolhe as asas apaziguada e contente.

«Porque te calas? Não dizes nada? Fechas os olhos como uma criancinha que quer dormir. Deixa-te estar assim, meu amor! Indigno sacrário que recolhe os teus gestos de beleza, só de joelhos devia ver-te sonhar. Indigno pecador, como foi que te mereci?! Para te pagar as horas inefáveis que das tuas mãos recebo, as horas de paz que deixas cair sobre o mundo, toda a minha alma em preces, de joelhos, de mãos postas, não é bastante, Maria! Por ti deixar-me-ia crucificar, as chagas das minhas mãos seriam purificadas pela fímbria do teu vestido. Estas grades de ferro defendem-te do hálito de toda a minha impureza, como as grades de prata que encerram, longínqua e puríssima, uma Virgem da minha terra. Não me atrevo a tocar-te: as minhas mãos seriam queimadas como as de um sacrílego. Para dizer





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