As Máscaras do Destino - Cap. 8: AS ORAÇÕES DE SOROR MARIA DA PUREZA Pág. 64 / 80

Aproximava-se depois da grade onde a vinha virgem com os seus braços teimosos continuava a enlaçar os duros varões de ferro, e ali ficava horas esquecidas, pequenina estátua de mármore sobre um mausoléu, perdida num sonho que não era da Terra. Viam-na voltar mais frágil, mais embaciada, de uma palidez quase etérea. Instintivamente, procuravam-se-lhe as asas no seu corpito de ave que parecia ensaiar um voo. Os seus olhos tinham um olhar tão doce, tão desprendido das coisas deste mundo, que, sem querer, a gente procurava o sítio onde ela iria poisar.

O pai e a mãe inquietaram-se por fim. Interrogaram-na, e com lágrimas e súplicas pediram-lhe que falasse, que dissesse o que tinha, o que queria, o que queria que eles lhe dessem, que eles lhe fizessem para a prender na Terra. Tudo lhe fariam, tudo lhe dariam. Que ela pedisse tudo. Estavam prontos a fazer por ela todos os sacrifícios.

Foi então que a Mariazinha, noiva-menina de um noivo-morto, disse, pediu o que queria: queria ir para um convento.

«Isso não! Isso nunca!», clamaram os pais, numa revolta de toda a sua alma. Fora então para isso que a mãe a trouxera nas suas entranhas, que a alimentara aos seus peitos, que a embalara nos braços tantos anos! Fora então para isso que o pai lhe amparara os primeiros passos, que lhe arrancara do caminho todos os espinhos para ela passar! «Isso não! Isso nunca!»

Passaram dias, meses, passaram dois anos. O rosto miudinho era uma pétala de camélia, todo o corpito de ave um flocozinho de neve. Continuava a ir à grade onde ficava horas e horas a sorrir, de olhos baixos, com as mãos a tremer, num enleio de amor que não era deste mundo.

Um dia, vendo-a morrer assim aos poucos, os pais cederam de repente. Mariazinha, quando soube, chorou





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