Homenagem à Catalunha - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 131 / 193

Pelo menos algumas das terras tomadas continuariam em seu poder, caso em que haveria também uma distribuição no território que fora de Franco, e a servidão virtual que existira em certas partes da Espanha não deveria ser restaurada. O Governo estando com o controle ao final da guerra seria, de qualquer modo, anticlerical e antifeudal. Manteria a Igreja em seu lugar, pelo menos por algum tempo, modernizaria o pais, construindo estradas, por exemplo, e promovendo a educação e saúde pública. Em certa medida, isso fora levado a efeito até mesmo durante a guerra. Franco, por outro lado, na extensão em que não fosse apenas o fantoche da Itália e Alemanha, encontrava-se atado aos grandes latifundiários feudais e a favor de uma rígida reação clérico-militar. A Frente Popular poderia ser uma trapaça, mas Franco era um anacronismo. Apenas os milionários ou espíritos românticos podiam desejar sua vitória.

Havia, além disso, a questão do prestígio internacional do fascismo, que por um ou dois anos anteriores estivera a perseguir-me como um pesadelo. Desde 1930 os fascistas tinham conquistado todas as vitórias, e era hora de levarem uma surra, fosse lá de quem fosse. Se pudéssemos atirar Franco e seus mercenários ao mar, isso talvez causasse uma melhoria imensa na situação mundial, ainda que a própria Espanha emergisse com uma ditadura opressora e todos os seus melhores homens na prisão. Bastava aquele motivo para justificar o ganharmos a guerra.

Era assim que eu via as coisas naquela ocasião. Posso dizer que tenho agora muito mais respeito ao Governo Negrín do que quando o mesmo subiu ao poder. Ele sustentou a luta difícil com coragem esplêndida, e demonstrou maior tolerância política do que todos esperavam. Mas ainda creio que - se a Espanha não se dividir, com consequências imprevisíveis - a tendência do Governo após a guerra deverá ser fascista. Mais uma vez apresento essa opinião, e corro o risco de que o tempo faça comigo o que tem feito com a maioria dos profetas.

Mal chegáramos à linha de frente e soubemos que Bob Smillie, já de volta para a Inglaterra, fora detido na fronteira, levado a Valência e atirado numa prisão. Smillie estivera na Espanha desde outubro e trabalhara diversos meses na direção do P.O.U.M., tendo então ingressado na milícia ao chegarem os demais membros da I.L.P., sob o entendimento de que serviria três meses no front antes de regressar à Inglaterra para participar numa tournêe propagandística. Levou algum tempo para descobrirmos o motivo de sua prisão. Estava incomunicável, de modo que nem os advogados podiam vê-lo.





Os capítulos deste livro