As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 107 / 339

CAPÍTULO III

o autor é enviado para a corte. A rainha compra-o ao antigo dono, o lavrador, e oferece-o ao rei. Discute com os mais eminentes eruditos de Sua Majestade. Dá-se-lhe alojamento na corte. Goza do alto favor da rainha. Apresenta-se como defensor da honra do seu país. Combate com o anão da rainha.

As duras condições a que fui diariamente submetido provocaram em poucas semanas consideráveis alterações na minha saúde. Quanto mais o meu amo obtinha de mim, mais insaciável se tornava. Emagrecera desmedidamente e estava quase na pele e no osso. O lavrador apercebeu-se disso e, chegando à conclusão de que em breve morreria, resolveu tirar de mim o máximo partido possível.

Enquanto o meu amo reflectia sobre o destino que ia dar à vida, chegou um slardral, ou mensageiro da corte, com ordens para que, sem dilação, o meu amo me levasse lá, para entreter a rainha e as aias. Algumas destas tinham vindo ver-me e contavam coisas singulares sobre a minha formosura, comportamento e habilidade. Sua Majestade e o séquito que a envolvia ficaram agradabilissimamente surpreendidas com o meu porte. Ajoelhei-me e solicitei a honra de beijar o seu pé imperial; no entanto, a graciosa princesa estendeu-me o seu dedo mínimo e eu (depois de ser colocado sobre uma mesa) abracei-o com ambos os braços e com o maior respeito beijei a ponta do seu dedo. Seguidamente, fez-me algumas perguntas de índole geral sobre o meu país e as minhas viagens, a que respondi de modo, o mais possível, claro e conciso. Perguntou-me se eu gostaria de viver na corte. Fiz-lhe uma profunda vénia até à superfície da mesa e respondi-lhe humildemente que era escravo do meu senhor mas que, se pudesse dispor livremente da minha pessoa, seria para mim motivo de orgulho dedicar a vida ao serviço de Sua Majestade.





Os capítulos deste livro