As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 126 / 339

CAPÍTULO V

Diversos incidentes que o autor sofreu. Execução de um criminoso. O autor mostra a sua destreza como navegador.

A minha felicidade naquele país teria sido completa se a minha pequenez não me tivesse exposto a alguns incidentes ridículos e problemáticos. Arriscar-me-ei a relatar alguns deles. Glumdalclitch levava-me amiúde aos jardins da corte na minha caixa pequena. Por vezes retirava-me dela e segurava-me na mão ou punha-me no chão para que caminhasse. Antes de a rainha dispensar o anão recordo-me que, certa ocasião, nos seguiu até aos referidos jardins e, após ter sido colocado no solo pela minha ama, encontrámo-nos, eu e ele, perto de umas macieiras anãs e insinuei-lhe comparações malévolas e tontas entre ele e aquelas árvores. O patife aguardou a oportunidade de ripostar e, quando me viu passar debaixo de uma das árvores, sacudiu-a sobre a minha cabeça e uma dezena de maçãs, quase tão grandes como um barril de Bristol, caíram rentes à minha cabeça. Uma roçou-me as costas quando me desviava e caí de bruços. A meu rogo o anão foi perdoado, uma vez que eu próprio o tinha provocado.

De outra vez, Glurndalclitch deixou-me numa relva macia para que me entretivesse enquanto ela e a professora iam dar um breve passeio. Caiu, entretanto, uma granizada tão violenta e repentina que, em breve, estatelava-me no solo, sentindo dolorosos golpes em todo o corpo, como se me atirassem fortes boladas. Fiz, contudo, um esforço, arrastei-me de gatas, procurei refúgio na parte mais recôndita de um tomilhal, mas fiquei tão magoado que, durante dez dias, não pude sair. Nada disto é para admirar tendo em conta que, como os fenómenos atmosféricos daquele país mantinham a mesma proporção em todas as suas manifestações, cada pedra era cerca de 1800 vezes maior que as nossas na Europa.





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