As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 138 / 339

CAPÍTULO VI

Diversas habilidades utilizadas pelo autor para agradar ao rei e à rainha.

Demonstra o seu talento musical. O rei interroga-o sobre as coisas da Europa e o autor informa-o. Comentários do rei sobre esse assunto.

Era hábito que, duas vezes por semana, fizesse companhia ao rei quando se levantava; vira-o amiúde nas mãos do barbeiro o que, a princípio, constituiu um espectáculo temível: a navalha tinha quase o comprimento de uma gadanha. Segundo o costume do país, o rei só fazia a barba duas vezes por semana. Certa vez, consegui que o barbeiro me desse um pouco de espuma de barbear; dela extraí quarenta a cinquenta pêlos dos mais rortes da barba régia. Apanhei então um pedaço de madeira e cortei-o em forma de cabo de pente e, com a agulha mais pequena de Glumdalclitch, perfurei-o a intervalos regulares. Com habilidade fixei nele os pêlos, pondo-os à mesma altura e afiando-os com o canivete, obtendo assim um pente muito aceitável. Na verdade, o meu anterior pente estava tão falho 'á de dentes que praticamente não me servia para nada e, neste país, não conhecia artesão suficientemente hábil e preciso para fazer-me um novo.

Isto fez-me lembrar um passatempo a que consagrei muitas horas de ócio. Pedi à aia da rainha que recolhesse os cabelos que caíam ao pentear Sua Majestade, pelo que consegui uma boa quantidade. Consultei o meu amigo marceneiro, a quem fora indicado fazer os trabalhos que lhe pedisse. Encarreguei-o de fazer duas armações de cadeira não maiores que as da minha caixa, e que perfurasse com uma sovela fina o assento e as costas. Por essas perfurações passei os cabelos mais grossos que encontrei, tal como se faz com as cadeiras de vime inglesas.





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