As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 17 / 339

Porque supondo que estas gentes se tivessem empenhado em matar-me com as suas lanças e flechas enquanto dormia, é certo que me teriam despertado à primeira sensação de ardor, o que teria podido avolumar a ira e a força, permitindo-me romper as cordas que me sujeitavam. Depois, e sem resistência possível, não poderiam esperar misericórdia da minha parte.

Estas gentes são excelentes matemáticos e conseguiram uma grande perfeição em mecânica, graças à aprovação e estímulo do imperador, que é um celebrado mecenas do saber. Este príncipe fez construir várias máquinas com rodas para o transporte de troncos de árvores e outros grandes pesos. Manda construir com frequência os maiores barcos de guerra, com comprimentos que atingem os nove pés, junto às próprias florestas, transportando-os com aquelas máquinas por distâncias de trezentas ou quatrocentas jardas até ao mar. Quinhentos carpinteiros e engenheiros puseram-se a trabalhar de imediato para preparar a maior máquina até então. Tratava-se de um estrado de madeira colocado a três polegadas do solo, de uns sete pés de comprimento e quatro de largura, movendo-se sobre vinte e duas rodas. A algazarra que ouvira devia-se à chegada da máquina que, ao que parece, estava pronta quatro horas depois da minha chegada. Colocaram-na em posição paralela ao meu corpo. A principal dificuldade consistia em erguerem-me e colocarem-me neste veículo. Para o efeito, instalaram-se oitenta postes com um pé de altura, e fortes cordas com a espessura de barbante suportavam, por meio de ganchos, as numerosíssimas faixas que me tinham colocado em redor do pescoço, mãos, tronco e pernas. Novecentos dos homens mais fortes intervieram para puxar estas cordas com a ajuda de roldanas fixadas aos postes.





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