As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 178 / 339

Tem também a seu cargo vigiar atentamente o amo enquanto passeia e, se for caso disso, dá-lhe um ligeiro toque nos olhos, porque o amo está sempre tão abstraído nos seus pensamentos que corre o risco evidente de cair em qualquer precipício, de bater com a cabeça num poste e, na rua, de tombar ou provocar a queda de alguém na valeta.

Era preciso dar esta informação ao leitor uma vez que, sem ela, não poderia compreender o comportamento desta gente. Entretanto, era conduzido pelas escadas até à parte superior da ilha voadora e, dali, para o palácio real. Enquanto subíamos, esqueceram várias vezes o motivo que os levava ali, abandonando-me, pelo que os batedores tiveram várias vezes de lhes avivar a memória. Pareciam então completamente indiferentes ao meu vestuário e às minhas maneiras de estrangeiro, tal como aos gritos do vulgo, cujo espírito e intelecto estavam libertos destas especulações.

Entrámos, por fim, no palácio real, sendo depois conduzidos à sala de audiências onde vi o rei sentado no seu trono e rodeado por dignitários. Diante do trono havia uma grande mesa repleta de esferas, globos e instrumentos matemáticos de toda a espécie. Sua Majestade não nos prestou a menor atenção, embora a nossa entrada se tenha efectuado desordenadamente, já que toda a gente da corte se reuniu. Estava absorto com um problema e esperámos, pelo menos, uma hora para que o solucionasse. De cada lado do trono encontrava-se um jovem pajem com uma bexiga na mão e, quando o viram com o semblante despreocupado, deram-lhe um golpe suave na boca e outro na orelha direita; com isto sobressaltou-se, como se despertasse de repente e, olhando para mim e para os meus acompanhantes, lembrou-se da visita de que fora previamente informado.





Os capítulos deste livro