As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 18 / 339

Desta forma, e em menos de três horas, ergueram-me, colocaram-me na máquina e ataram-me fortemente a ela. Tudo foi-me contado depois, dado que durante toda a operação dormia profundamente por força do sonífero que tinham deitado na minha bebida. Foram utilizados mil e quinhentos dos maiores cavalos do imperador, que tinham umas quatro polegadas e meia de altura, para arrastar-me até à capital que, como já disse, se encontrava a meia milha de distância.

Quatro horas depois de começada a viagem, um ridículo acidente despertou-me. Tendo parado o veículo para repararem uma avaria, dois ou três jovens, curiosos de ver que aspecto tinha enquanto dormia, subiram para a máquina e avançaram com muita cautela até à minha cara. Um deles, oficial da guarda, meteu a extremidade afiada da sua lança na narina esquerda do meu nariz, o que me provocou cócegas como as feitas por uma palha, levando-me a espirrar violentamente. Fugiram de imediato sem ser vistos e só passadas três semanas soube o motivo por que despertara tão repentinamente. Percorremos um longo caminho durante o resto do dia e descansámos à noite, com quinhentos guardas de cada lado, metade deles segurando archotes e a outra metade com arcos e flechas, prontos a disparar caso fizesse qualquer movimento. Na manhã seguinte prosseguimos a marcha mal o Sol rompeu, chegando a duzentas jardas das portas da cidade pelo meio-dia. O imperador e toda a sua corte saíram ao meu encontro, mas os altos oficiais impediram com firmeza que Sua Majestade pusesse em perigo a sua integridade física tentando trepar para o meu corpo.





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