As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 181 / 339

Determinou, em primeiro lugar, a minha altura com a ajuda de um quadrante; verificou, depois, as dimensões e a forma geométrica de todo o meu corpo; tomou as devidas notas e, ao fim de seis dias, apareceu com um traje pessimamente confeccionado e disforme, por erro nos cálculos. Mas consolei-me por ver que tais acidentes eram coisa frequente e não eram tidos em consideração.

O meu dicionário aumentou muito durante os dias em que permaneci incomunicável por falta de roupas e por uma indisposição; quando, finalmente, apareci de novo na corte, compreendi bastante bem muitas das coisas que o rei dizia e fui capaz de responder mais ou menos bem às suas perguntas. Sua Majestade ordenara que a ilha flutuante se deslocasse para nor-noroeste, na vertical de Lagado, a capital de todo o reino, em terra firme. Estava a cerca de noventa léguas de distância e a viagem durou quatro dias e meio. Não se notava qualquer vibração que indicasse que a ilha flutuante se movimentava. Pelas onze horas do segundo dia o rei mandou preparar os instrumentos musicais e quer ele, quer a nobreza, cortesãos e dignitários, tocaram durante três horas seguidas, de tal modo que o ruído me deixou aturdido. Não teria podido decifrar o seu significado sem as explicações do meu professor: as pessoas tinham a capacidade de captar a música das Esferas que se faz ouvir em determinados períodos e cada um dos cortesãos sabia acompanhar a música celeste com o seu instrumento favorito.

No trajecto para Lagado, a capital do reino, Sua Majestade dava ordens para que se parasse sobre algumas cidades e povoações para receber as petições dos súbditos. Para tal, deixavam-se cair cabos com pequenos pesos nas extremidades.





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