As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 195 / 339

CAPÍTULO IV

O autor abandona Laputa, é conduzido a Balnibarbi, chega à capital.

Descrição da capital e dos arredores. Hospitalidade generosa de um grande senhor. Conversa com ele.

Ainda que não possa afirmar que me tratassem mal nesta ilha devo, porém, confessar que me parecia viver no meio de uma grande indiferença não isenta de algum desprezo. Nem o príncipe nem os vassalos demonstravam qualquer interesse por outra ciência que não fossem as matemáticas e a música, e como eu lhes era muito inferior em ambas, não me dispensavam, por isso, nenhuma consideração.

Por outro lado, já tinha visitado todas as áreas interessantes da ilha e desejava ansiosamente abandoná-la porque os seus habitantes tinham-se-me tornado insuportáveis. É certo que se salientavam em duas ciências pelas quais nutro elevada estima e relativamente às quais não estou impreparado, mas ao mesmo tempo estavam tão distraídos e absortos nas suas especulações que me pareciam os mais desagradáveis companheiros que jamais conhecera. Durante os dois meses que residi ali só conversei com mulheres, comerciantes, batedores e pajens da corte pelo que, por fim, me tornei altamente desprezível por serem aqueles os únicos de quem podia obter respostas razoáveis.

Graças a um duro esforço conseguira um bom domínio do idioma; estava cansado por estar encerrado numa ilha onde era tão pouco considerado e decidi abandoná-la logo que fosse possível.

Havia na corte um grande senhor, parente próximo do rei, e respeitado apenas por este motivo, pois todos o consideravam o mais ignorante e estúpido dos habitantes da ilha.





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