As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 196 / 339

Prestara muitos e eminentes serviços à coroa; possuía grandes talentos naturais ou adquiridos, para além de integridade e honra; mas tinha tão pouco ouvido para a música que os seus detractores o acusavam de ter perdido várias vezes o compasso; mesmo os seus mestres só com muita dificuldade lhe conseguiam demonstrar os mais simples teoremas matemáticos. Comprazia-o oferecer-me grandes manifestações de deferência, visitava-me com frequência, manifestava interesse pela situação da Europa, pelas suas leis, costumes e modas, tal como apreciava as informações que lhe dava sobre os países por onde viajei. Escutava-me com muita atenção e fazia comentários muito assisados às minhas palavras. Tinha dois batedores a flanqueá-lo, devido à sua condição: nunca os utilizava, excepto na corte e em visitas oficiais, e dispensava-os sempre que nos encontrávamos a sós.

Supliquei a tão ilustre cavalheiro que intercedesse por mim junto de Sua Majestade, para que me deixasse partir, o que fez com pesar, conforme me confessou; chegou mesmo a fazer-me propostas muito vantajosas que, porém, recusei com expressões do meu maior reconhecimento.

A 16 de Fevereiro despedi-me de Sua Majestade e da corte. O rei ofereceu-me uma quantia equivalente a cerca de duzentas libras inglesas, e o seu parente e meu protector outro tanto, juntamente com uma carta de recomendação para um amigo seu de Lagado, a capital; a ilha flutuou a duas milhas de uma montanha e desci da galeria inferior do mesmo modo como fora içado.

A zona continental submetida ao rei da Ilha Flutuante recebe a denominação genérica de Balnibarbi e a capital, como disse anteriormente, chama-se Lagado. A minha satisfação por encontrar-me em terra firme foi, de novo, imensa. Dirigi-me para a cidade despreocupadamente, trajando como qualquer nativo e com suficientes conhecimentos do idioma para poder conversar. Em breve localizei a casa da pessoa a quem fora recomendado;





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