As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 20 / 339

CAPÍTULO II

O imperador de Lilliput, acompanhado por vários nobres, visita o autor no cárcere. Descreve-se o aspecto físico e a vestimenta do imperador. São nomeados eruditos para lhe ensinarem o idioma. Granjeia amizades graças à sua docilidade. Revistam-lhe os bolsos e confiscam-lhe a espada e as pistolas.

Quando me instalei, olhei à minha volta e devo confessar que jamais havia contemplado uma paisagem tão encantadora. Parecia um jardim contínuo, cujos campos parcelados, na sua maioria com quarenta pés quadrados, davam a impressão de ser jardins floridos. Aos campos intercalavam-se bosques com uma extensão de um quarto de acre e, pelo que se podia observar, as árvores mais altas mediam sete pés. À direita, observei a capital: parecia o cenário de uma cidade num teatro.

Havia algumas horas que me encontrava muito apoquentado pelas necessidades biológicas; e não é de estranhar, pois havia quase dois dias que não defecava. Sentia-me dividido entre a necessidade e a vergonha. Pensei que a melhor solução era resguardar-me discretamente em casa, e foi pois isto que fiz. Fechei a porta depois de me esticar até ao extremo que me permitia a corrente e, por fim, desembaracei-me da carga. Mas esta foi a única vez que me senti culpado de tão asqueroso acto; não me resta outra coisa do que esperar condescendência por parte do ingénuo leitor, uma vez sopesada a difícil situação em que me encontrava. A partir daquele dia acostumei-me, logo ao acordar, a sair para o exterior e a fazer as necessidades tão longe quanto me permitia a corrente. Antes que alguém viesse visitar-me pela manhã, tomavam-se as medidas adequadas para que os meus resíduos desaparecessem, levados nos carrinhos de dois serventes.





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