As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 202 / 339

CAPÍTULO V

O autor recebe autorização para visitar a Grande Academia de Lagado.

Pormenorizada descrição desta. Trabalhos a que se dedicam os mestres.

A academia não é composta apenas por um edifício, mas por uma série de edificações de ambos os lados de uma rua dedicada a tal fim, depois de ter sido comprada num estado de ruína total.

Fui recebido pelo director com grande amabilidade e voltei à academia várias vezes. Em cada sala há um ou mais projectistas e não creio que entrasse em menos de quinhentas salas.

O primeiro académico que vi apresentava um aspecto adoentado, com o rosto e as mãos cobertas de fuligem, cabelos e barba crescidos, andrajoso e chamuscado em diversos pontos. O vestuário, a camisa e a pele eram da mesma cor. Desde há oito anos estava envolvido num projecto que consistia em extrair raios de Sol dos pepinos, fechá-los em recipientes herméticos e usá-los para aquecer o ar em dias frios e chuvosos. Estava convencido de que, dentro de outros oito anos, proporcionaria luz solar aos jardins do governador a um preço razoável; mas queixou-se de que os seus meios eram muito escassos e suplicou-me que lhe desse algo em favor da ciência, sobretudo porque os pepinos estavam muito caros naquela época. Entreguei-lhe um pequeno óbolo, uma vez que o meu anfitrião, sabendo o quanto pedinchões são os inventores com os seus visitantes, me dera dinheiro para o efeito.

Entrei noutra sala, mas preparei-me para sair com rapidez, meio asfixiado com um fedor insuportável. O meu guia incitou-me a continuar dizendo-me ao ouvido que estava a cometer uma incorrecção muito desagradável, pelo que nem sequer pude tapar o nariz. O inventor que vivia neste aposento era o membro mais antigo da academia. Tinha uma tez e uma barba de cor amarelo-pálido; as mãos e o traje estavam cobertos de imundície.





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