As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 203 / 339

Quando foi feita a apresentação impingiu-me um abraço apertado, efusão a que poderia ter-se poupado. Desde a sua chegada à academia investigava como converter os excrementos humanos no alimento original, isolando os diferentes componentes, eliminando o aspecto que lhes é dado pela bílis e pelo cheiro e suprimindo a mucosidade. Todas as semanas recebia um recipiente do tamanho de um barril de Bristol, cheio de excrementos.

Vi outro procurando calcinar gelo em pólvora e que igualmente me mostrou um tratado que escrevera e se preparava para publicar sobre a maleabilidade do fogo.

Havia também um arquitecto genial que concebera um novo método de construir casas, começando pelo telhado e terminando nas fundações. Disse-me que se inspirava na mesma técnica dos insectos inteligentes, a abelha e a aranha.

Havia um homem com diversos aprendizes, cegos de nascimento como ele. O seu trabalho consistia em misturar as cores para os pintores: o mestre ensinava-os a distingui-las pelo tacto e pelo cheiro. Teve a má sorte de arranjá-los numa época em que não tinham assimilado muito bem as lições; por outro lado, o próprio professor Costuma enganar-se com frequência. Este cientista gozava de grande consideração e apoio por parte de toda a irmandade.

Agradou-me muito encontrar noutro aposento um inventor que desenvolvera a técnica de arar a terra com porcos, para poupar o gasto de arados, gado e mão-de-obra. O método era o seguinte: num acre de terreno enterram-se, a intervalos de seis polegadas, e a oito de profundidade, um certo número de bolotas, nozes, tâmaras e outros frutos e vegetais apreciados por estes animais; soltam-se depois seiscentos ou mais porcos pelo campo; em poucos dias terão escavado toda a terra em busca de alimento e deixá-la-ão preparada para a semeadura e adubada com os excrementos.





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