As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 239 / 339

Os struldbruggs e eu trocaríamos as nossas experiências e memórias no decorrer do tempo; mostraríamos os diversos graus de corrupção que minam o mundo e lutaríamos contra ela em cada ocasião, prodigalizando aos homens advertências e conselhos. Tudo isto, juntamente com o poderoso influxo do nosso exemplo, contribuiria possivelmente para impedir essa incessante degeneração do género humano que, não sem motivo, se deplora através dos séculos.

Acrescente-se a isto o prazer de presenciar as diversas revoluções dos Estados e impérios; as transformações em toda a face da Terra, as grandes cidades volvidas em ruínas, antigas aldeolas convertidas em sedes de realeza, rios famosos transformados em riachos, oceanos que invadiam uma costa e deixavam seca outra, a descoberta de países ignotos, a queda na barbárie das nações mais civilizadas, a ascensão à civilização das mais bárbaras. Assistiria à descoberta de novos espaços, do movimento contínuo, da medicina universal e ao máximo aperfeiçoamento de muitos e sensacionais inventes.

As descobertas no campo da astronomia seriam espantosas. Poderíamos confirmar as nossas predições porque sobreviveríamos para ver, assistiríamos à passagem e ao regresso dos cometas, às alterações no movimento do Sol, das estrelas, da Lua.

Fui prolixo ao referir-me a muitos outros temas, que fluíam com facilidade do natural desejo de vida imortal e felicidade terrena. Quando terminei, e todo o meu discurso acabou de ser traduzido, puseram-se a discutir animadamente no seu idioma, intercalando com algum riso à minha custa. Finalmente, a mesma pessoa que fora o meu intérprete foi designada pelos restantes para corrigir-me alguns erros em que incorrera, devido à usual estultícia da natureza humana, o que constituía motivo suficiente para desculpá-los. Esta raça de struldbruggs era própria do país deles.





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