As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 240 / 339

Não existia nem em Balnibarbi nem no Japão, onde tinha a honra de ser o embaixador de Sua Majestade, e verificava que os naturais destes dois reinos dificilmente acreditavam na possibilidade deste facto. As minhas expressões de espanto, quando pela primeira vez se abordara esse assunto, pois acolhera-o como algo de inteiramente estranho e pouco crível, assim também o comprovavam. Durante o seu mandato nos dois reinos já mencionados teve a oportunidade de trocar muitas impressões: em todas elas adorava o desejo e a ânsia da humanidade. O que tinha um pé para a cova procurava manter o outro em terra firme o maior tempo possível. Os mais anciãos ainda alimentavam a esperança de viver um dia mais e consideravam a morte como o pior dos males, de que fugiam por instinto. Apenas nesta ilha de Luggnagg este desejo não se mantém tão vivo, devido a terem constantemente diante de si o exemplo dos struldbruggs.

O sistema de vida que preconizara era injusto e absurdo porque pressupunha uma duração eterna da juventude, saúde e vigor que, por mais extravagantes que fossem os desejos, ninguém seria tão néscio para contar com isso. A essência do problema radicava, por conseguinte, não tanto em se alguém devia optar por viver numa excelente juventude, ao mesmo tempo próspera e saudável, mas em como se viveria uma vida imortal com todos os inconvenientes inerentes à velhice. Porque embora poucas pessoas confirmassem o seu desejo de imortalidade sob condições tão penosas, ele observara nos já mencionados reinos de Balnibarbi e do Japão que todos desejavam adiar a morte por algum tempo, quanto mais melhor, e só em raras ocasiões ouvira que alguém morrera de bom grado, excepto em situações de tortura ou de dor extremas.





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