Todos os odeiam e desprezam. O nascimento de um imortal é considerado um acontecimento vergonhoso; toma-se cuidadosamente nota da data do seu nascimento para que se venha a poder saber a idade consultando o registo público que, aliás, não remonta para além de mil anos: o tempo ou os motins destruíram registos anteriores. A maneira vulgar de saber a sua idade é perguntar-lhes sobre os reis ou personalidades de que se recordam e verificar nos livros de História; é inevitável que o último rei de que se lembram começou a reinar quando eles ainda não tinham atingido os oitenta anos.
Jamais vira nada de aspecto tão repugnante, se bem que as mulheres fossem ainda mais horríveis. Para além das usuais deformidades de velhice adquiriam uma adicional e indescritível palidez, proporcional à idade que tinham. Depressa aprendi a distinguir a mais velha de entre meia dúzia delas apesar de não haver entre si mais de um século de diferença.
O leitor compreenderá com facilidade que, ante o visto e o ouvido, o meu desejo ardente de imortalidade se tenha esfriado consideravelmente. Sentia-me envergonhado das minhas joviais quimeras e ponderei que nenhum tirano seria capaz de conceber uma morte a que eu não me entregasse com prazer para fugir a semelhante vida.