Quando as coisas estavam a piorar, vi que todos desatavam, de súbito, a correr. Atrevi-me a deixar o esconderijo e a prosseguir o caminho, perguntando a mim próprio sobre a razão desta debandada. Ao olhar para a esquerda, vi um cavalo a avançar tranquilamente pelo caminho: os meus perseguidores tinham-se posto em fuga ao verem-no. Quando se aproximou, mostrou-se um tanto surpreendido, mas em breve recobrou o ânimo e fixou-me directamente nos olhos com um ar inquestionavelmente espantado. Contemplou os meus pés e mãos e deu várias voltas em meu redor. Fiz menção de prosseguir caminho mas ele interpôs-se, não de forma ameaçadora, mas com aspecto pacífico. Assim ficámos por momentos, olhando um para o outro. Finalmente atrevi-me a estender a mão para acariciar-lhe o pescoço, fazendo gestos e assobios como o fazem os cavaleiros quando se deparam com um cavalo arisco. Mas este animal pareceu aceitar com desprezo as minhas gentilezas, franziu o sobrolho e, erguendo a pata dianteira esquerda, afastou a minha mão com suavidade.