As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 323 / 339

Apesar disso, calculei então que nos encontrávamos a uns 10 graus a sul do Cabo de Boa Esperança ou a cerca de 45 graus de latitude sul, a julgar por comentários que ouvi numa das conversas deles e que me levaram a pensar encontrarmo-nos a sueste de Madagáscar, para onde se dirigiam. Embora não passasse de mera conjectura, decidi rumar para leste, com a esperança de atingir a costa sudeste de Nova Holanda ou talvez qualquer outra ilha para ocidente, de acordo com o plano previsto. De oriente soprava um forte vento de modo que, por cálculo efectuado, às seis da tarde percorrera pelo menos dezoito léguas. Então, a meia milha de distância, avistei uma pequena enseada bem encurvada pela força dos temporais. Pus ali o meu bote a seguro e, escalando a rocha até certa altura, divisei com clareza, a leste, uma terra que se alongava de norte para sul. Passei a noite na minha canoa e, ao romper a madrugada, retomei a viagem, alcançando em sete horas o extremo sueste de Nova Holanda. Isto confirmou a minha tese amplamente defendida de que os mapas e cartas situam esta região a, pelo menos, três graus mais a leste da sua efectiva localização. Há muitos anos que transmitira esta opinião ao meu amigo Herman Moll, expondo-lhe os meus argumentos, mas ele tinha preferido seguir outros autores.

Não vi seres humanos quando desembarquei e, como não estava armado, não ousei aventurar-me terra adentro. Encontrei na praia alguns mariscos que comi crus, pois não me atrevi a acender uma fogueira, com receio de que os nativos me descobrissem. Durante três dias alimentei-me de ostras e lapas, para poupar as provisões; por sone, deparei com um arroio com excelente água, que me reconfortou muito.





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