As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 70 / 339

«Durante vários debates sobre o processo inculpatório tem de se reconhecer que Sua Majestade deu muitas provas da sua grande magnanimidade, mencionando com frequência os serviços que lhe haveis prestado e procurando atenuar a gravidade dos vossos crimes. O ministro da Fazenda e o almirante insistiram em que deveríeis ser submetido à mais dolorosa e ignominiosa morte, deitando-se fogo à vossa casa pela calada da noite, ao mesmo tempo que o general, à frente de vinte mil homens armados com frechas envenenadas, vos visariam o rosto e as mãos. Alguns dos vossos criados receberiam ordens secretas para deitar líquido venenoso nas vossas camisas e lençóis, que vos atacaria as carnes e vos levaria à morte no meio dos mais atrozes sofrimentos. O general era da mesma opinião pelo que, durante muito tempo, a maioria estava contra vós. Mas Sua Majestade, decidido que estava, na medida do possível, a salvar-vos a vida, conseguiu finalmente o voto do camareiro.

«Reldresal, secretário principal dos assuntos internos, que sempre se declarou um verdadeiro amigo vosso, foi solicitado pelo imperador a exprimir a opinião sobre este assunto. Assim o fez, e com isso justificou a boa estima que tendes por ele. Ele aceitava que os vossos crimes eram grandes mas que, ainda, devia haver lugar para a misericórdia, a mais louvável das virtudes num príncipe e pela qual Sua Majestade era tão merecidamente célebre. Disse que a amizade entre vós e ele era do conhecimento geral, o que seria considerado pelo tribunal mais respeitável como prova de parcialidade. No entanto, obedecendo ao mandato que recebera, exporia os seus sentimentos com franqueza.





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