Não cansarei o leitor relatando as dificuldades com que me deparei para com a ajuda de uns improvisados remos que me custaram uns dez dias de trabalho levar o meu bote até ao porto real de Blefuscu, onde as pessoas se tinham aglomerado para me verem chegar, cheias de espanto ao verem uma nave tão prodigiosa. Disse ao imperador que a minha boa estrela tinha posto este barco no meu caminho, que me levaria a algum lugar de onde eu poderia empreender o regresso ao meu país natal, e pedi a Sua Majestade que desse as devidas ordens para conseguir os materiais necessários para arranjar o barco, assim como a sua autorização para partir, o que se dignou conceder-me após amáveis protestos.
Sentia-me muito espantado por, durante todo este tempo, não ter chegado nenhuma mensagem referente a mim, enviada pelo nosso imperador à corte de Blefuscu. Mais tarde, porém, foi-me dado a entender que Sua Majestade Imperial, acreditando que não me passava pela cabeça qual o seu propósito, considerou que eu fora a Blefuscu apenas para cumprir a minha promessa, de acordo com a autorização concedida (e do conhecimento geral na nossa corte) e que, terminada a visita protocolar, regressaria passados poucos dias.