A Linha de Sombra - Cap. 7: V Pág. 109 / 155

Ele meneou grotescamente a cabeça, num sinal de assentimento, por cima das pernas arqueadas, que pareciam dois paus de vassoura dentro do pijama, com os pés despidos e enormes, nas extremidades.

«Porquê não? Trata-se de um género muito caro nesta parte do mundo, e havia muita falta dele em Tonquim. Ele, que se importava? O senhor não o conheceu. Eu sim, conheci-o e tive de o enfrentar. Não temia nem Deus, nem o Diabo, nem os homens, nem os ventos, nem os mares, nem a sua própria consciência. Estou convencido de que apenas sentia ódio por tudo e todos. Mas suponho que tinha medo de morrer. Acho que fui eu o único homem que alguma vez lhe fez frente. Enfrentei-o no mesmo camarote onde o senhor está agora instalado; ele estava doente, e então assustei-o. Convenceu-se de que eu lhe ia torcer o pescoço. Se o deixassem fazer a sua vontade, teria irrompido contra a monção do nordeste enquanto se mantivesse vivo, e depois continuaria ainda, infinitamente, pelos séculos fora. Ficava a fazer, nos mares da China, o papel do navio holandês, condenado a velejar sem destino por todos os mares da terra, devido aos crimes do seu capitão, até ao dia do Juízo! Ah! Ah!»

«Mas, para que é que ele voltou a pôr os frascos no seu lugar?»... ia eu começar a dizer.

«E porque não faria ele isso mesmo? Porque é que havia de deitar os frascos borda fora? Ficavam bem dentro da gaveta. Faziam parte da farmácia do navio.»

«E continuavam também embrulhados», exclamei. «Bem, os papéis do embrulho estavam ali. Fê-lo pela força do hábito, suponho eu, e quanto a voltar a enchê-los, há sempre uma porção enorme de remédios, enviados para bordo em embalagens de papel que, passado algum tempo, estoira~ por si. E, além disso, quem poderá dizer o que era aquilo? Penso que o senhor não o provou, comandante? Mas, evidentemente, tem a certeza.





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