Burns endereçou-me um olhar fantasma, mas, ao mesmo tempo, maravilhoso de serenidade.
«Bem me pareceu sempre, a mim, que ele nos ia pregar uma partida de morte», disse, enfatizando muito em particular o ele.
Estas palavras foram para mim um choque mental, mas não estava disposto, nem tinha a coragem nem a intenção, de me pôr a discutir o caso com Burns. O meu mal assumia as formas da indiferença. Da paralisia rastejante de um horizonte sem expectativas. Por isso limitei-me a fixar nele o meu olhar. Mas ele começou de novo a falar.
«Há o quê?... O quê?... Não!?... O senhor não acredita? Pois bem, então como é que me explica tudo isto? Como é que acha que certas coisas possam ter acontecido?» «Acontecido?», ecoei eu sombriamente. «Sim, porquê, como e em nome de que forças infernais, aconteceu aquilo?»
Na realidade, ao reflectir no caso, parecia-me ininteligível como uma coisa daquelas tinha acontecido assim: esvaziar os frascos, voltar a enchê-los, pô-los de novo no seu lugar. Era uma espécie de conjura, uma tentativa sinistra de sugerir uma ilusão fatal, algo que se assemelhava a uma vingança dissimulada - mas porquê? - ou a uma brincadeira diabólica. Quem se encontrava na posse da teoria verdadeira era Burns. A sua teoria era simples, e ele explanava-a agora solenemente e em voz cava.
«Julgo que em Haiphong lhe deram mais ou menos umas quinze libras por essa pequena porção de quinino.» «Senhor Burns!», exclamei eu.