A Linha de Sombra - Cap. 7: V Pág. 117 / 155

O seu rosto era de linhas austeras. Mas o que me é dado ainda lembrar são todos os rostos do navio, consumindo-se tragicamente diante dos meus olhos, rostos de homens cujos nomes se desfizeram na minha memória por completo.

Considerando a situação, as palavras que trocávamos eram escassas e bastante infantis. Eu tinha que me obrigar ao esforço de os encarar. Esperava sempre olhares cheios de reprovação. Mas não eram assim, nunca, os olhos deles. Era a sua expressão de sofrimento que os tornava difíceis de encarar. Sobre isso, não tinham eles, porém, domínio. Quanto ao resto, eu perguntava-me se seria a têmpera das suas almas ou a simpatia dos seus espíritos o que os tornava assim admiráveis, sinais da minha eterna admiração.

Quanto a mim, nem a minha alma era de grande têmpera, nem o meu espírito se encontrava suficientemente auto-dominado. Havia momentos em que sentia não só que ia enlouquecer, mas que me encontrava já inteiramente louco; assim, não me atrevia por vezes sequer a entreabrir os lábios com medo que algum berro dementado me traísse. Por sorte, só tinha que dar vozes de comando, e uma voz de comando tem um efeito calmante sobre aquele a quem incumbe. De resto, o marinheiro, o oficial de quarto, estavam em mim suficientemente lúcidos de espírito. Eu era como um carpinteiro louco a fazer uma caixa de madeira. Embora esse carpinteiro possa estar muito convencido de que é o rei de Jerusalém, o seu caixote acabará por ser feito de modo absolutamente normal. ~ que eu temia era que me fugisse dos lábios algum som mais estridente, alterando-me o equilíbrio mental. Felizmente, não tinha necessidade de transformar a minha voz. O silêncio condensadíssimo do mundo em redor parecia sensível ao mais ténue som, como se se tratasse de uma galeria acústica.





Os capítulos deste livro