A Linha de Sombra - Cap. 7: V Pág. 116 / 155

Quando isso sucedeu pela primeira vez, Ransome e eu ficámos seriamente alarmados. Encetámos uma busca escrupulosa e finalmente, Ransome descobriu-o dobrado aos bocados na arrecadação do pano, que dava para a antecâmara por uma porta decorrer. Enquanto eu começava a repreendê-lo por aquele disparate, ouvi-o responder num sussurro de amuo: «Aqui sempre está mais fresco». Era falso. O que havia lá dentro era escuro.

Os principais traços defeituosos da sua cara não eram apagados pela sua lividez de tom uniforme. O mesmo, porém, não era o que se passava com grande parte dos demais tripulantes. As devastações resultantes do seu estado de saúde pareciam antes idealizar-lhes a configuração geral das fisionomias, salientando uma nobreza nunca suspeitada em alguns deles, noutros o vigor, e num caso até, uma expressão profundamente cómica. Tratava-se de um homem de pequena estatura, arruinado e activo, com um nariz e um queixo à maneira de Punch e a quem os camaradas de bordo tinham posto a alcunha de «França». Nunca soube porquê. Era bem possível que ele fosse de origem francesa, mas nunca o ouvi dizer uma palavra nessa língua.

Bastava vê-lo vir para ré para se encarregar do leme, isso era já reconfortante. Com as calças de ganga arregaçadas por cima dos tornozelos, um pouco mais subidas numa das pernas que na outra, a camisa lavada de tecido axadrezado, um chapéu de lona branca, que ele próprio evidentemente fabricara, formavam um conjunto de uma elegância peculiar e até o garbo persistente da maneira de andar do pobre rapaz, sempre que lhe era possível tornar-se um pouco menos cambaleante, demonstravam a força indómita do seu espírito. Além disso, havia um outro marinheiro chamado Gambril. Era a única pessoa de cabelos grisalhos a bordo.





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