Seria um alívio a explosão de um relâmpago... Um alívio físico, quero eu dizer. Teria rezado a implorá-la, não fora o temor que me esmagava do trovão. Na tensão do silêncio que então sofria parecia-me que o primeiro ribombar do trovão me desfaria em pé.
E de acordo com toda a probabilidade, seria, de facto, a trovoada a primeira a verificar-se. Com o corpo inteiriçado de alto a baixo, mal conseguindo respirar, fiquei à espera numa medonha expectativa. Nada acontecia. Aquilo era de enlouquecer. Uma dor surda, crescente, na parte inferior do meu rosto, fez-me tomar conhecimento de que tinha estado a cerrar os dentes ferozmente, só Deus poderia saber há quanto tempo já.
É inacreditável que eu não me tenha ao menos ouvido a ranger os dentes daquela maneira; não ouvi. Com um esforço que absorveu todos os meus recursos disponíveis consegui fazer com que o maxilar se me imobilizasse. Era uma tarefa que exigia a maior atenção e, enquanto estava ocupado com isso, veio atormentar-me um som irregular e estranho de pancadas no convés. Ressoavam isoladamente, aos pares e em série.
Enquanto buscava uma explicação para aquele diabólico enigma, senti um pequeno choque por baixo do olho esquerdo e dei por uma lágrima grossíssima a deslizar-me pela face.