A Linha de Sombra - Cap. 8: VI Pág. 132 / 155

Avancei, entretanto, para além do círculo luminoso, para a escuridão que se levantava como um muro à minha frente. Com mais um passo penetrei na sua espessura. As trevas que precederam a criação do mundo deviam ser iguais àquela. O muro fechou-se sobre mim. Sabia que era agora invisível para o homem do leme. Também eu não via nada. Ele estava só, eu estava só; cada um dos homens estava só no seu lugar. Todas as formas em redor se tinham desfeito igualmente: mastros, velas, aparelho, amurada; tudo desaparecia na terrível uniformidade da noite absoluta.

Seria um alívio a explosão de um relâmpago... Um alívio físico, quero eu dizer. Teria rezado a implorá-la, não fora o temor que me esmagava do trovão. Na tensão do silêncio que então sofria parecia-me que o primeiro ribombar do trovão me desfaria em pé.

E de acordo com toda a probabilidade, seria, de facto, a trovoada a primeira a verificar-se. Com o corpo inteiriçado de alto a baixo, mal conseguindo respirar, fiquei à espera numa medonha expectativa. Nada acontecia. Aquilo era de enlouquecer. Uma dor surda, crescente, na parte inferior do meu rosto, fez-me tomar conhecimento de que tinha estado a cerrar os dentes ferozmente, só Deus poderia saber há quanto tempo já.

É inacreditável que eu não me tenha ao menos ouvido a ranger os dentes daquela maneira; não ouvi. Com um esforço que absorveu todos os meus recursos disponíveis consegui fazer com que o maxilar se me imobilizasse. Era uma tarefa que exigia a maior atenção e, enquanto estava ocupado com isso, veio atormentar-me um som irregular e estranho de pancadas no convés. Ressoavam isoladamente, aos pares e em série.

Enquanto buscava uma explicação para aquele diabólico enigma, senti um pequeno choque por baixo do olho esquerdo e dei por uma lágrima grossíssima a deslizar-me pela face.





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