Apenas com uma sombra mínima de cansaço, ele respondeu-me que se sentia com forças bastantes para pesar sobre a roda. Prometeu que não largaria mão da roda do leme. Mais do que isso não podia garantir.
Nesse instante, Ransome surgiu ao meu lado, saindo do escuro, subitamente, para a luz dos olhos, como se acabasse de ser gerado por inteiro ali mesmo, com o seu rosto tranquilo e a sua voz suave.
Tanto quanto o tacto permitia avaliar, disse-me ele, todos os cabos estavam estendidos e safos para a manobra, no convés. De resto, não se conseguia ver nada. O França tinha-se postado na proa. Afirmara que ainda tinha «brasa».
Um débil sorriso alterou então, por instantes, o desenho preciso e firme dos lábios de Ransome. Ali estava ele, com os seus olhos cinzentos e claros, o seu temperamento sossegado, um homem precioso, da cabeça aos pés. De alma tão resoluta como os músculos do seu corpo.
Era o único homem a bordo (exceptuando eu próprio; mas eu precisava de conservar a minha liberdade de movimentos) que dispunha ainda de uma força física susceptível de inspirar confiança. Por um momento, pensei que talvez o melhor fosse pedir-lhe que se encarregasse ele do leme. Mas o conhecimento do terrível inimigo que o habitava por dentro fez-me hesitar. Com toda a minha ignorância em matéria de fisiologia, recordei-me de que ele podia, no momento decisivo, morrer repentinamente por causa de qualquer comoção.
Enquanto esta impiedosa expectativa me fazia engolir as palavras que tinha já debaixo da língua, Ransome deu dois passos para trás e desapareceu do alcance do meu olhar.
Então apoderou-se de mim uma sensação de mal-estar, como se um apoio indispensável me fosse assim negado.