A Linha de Sombra - Cap. 8: VI Pág. 134 / 155

As luzes das duas lanternas da bitácula apagaram-se. Julgo que a água forçou a entrada dentro delas, embora não veja como isso foi possível porque as lâmpadas estavam perfeitamente ajustadas no capacete que tapa a agulha. Desaparecera o último raio de claridade que restava no Universo, perseguido por um débil grito consternado de Gambril. Procurei-o a tactear na treva e peguei-lhe num dos braços. Este era de uma magreza espantosa!

«Não faz mal», disse-lhe eu. «Você não precisa de claridade. O que tem que fazer é de manter o vento, quando lhe começar a soprar atrás da orelha, perceber»

«Sim, senhor! Sim, senhor! Percebi. Mas preferia ter uma luz», acrescentou, cheio de nervos.

Durante todo este tempo, o navio conservou-se firme como um rochedo. O rumor da água que corria das velas e dos mastros e se precipitava sobre o salto do tombadilho parara por completo. Os embornais do tombadilho soluçaram e fervilharam por um pedaço, e depois foi o silêncio perfeito, conjugando-se com a nossa total imobilidade, proclamando que não se rompera ainda o encanto do nosso isolamento no mundo, suspenso antes do desfecho violento que por certo nos espiava do escuro.

Dirigi-me, inquieto, para a proa. Não precisava de olhos para caminhar no tombadilho do amaldiçoado navio sob o meu comando, num passo absolutamente seguro. Cada pé quadrado do seu piso encontrava-se inapagavelmente gravado nas fibras mais íntimas do meu cérebro, bem como os nós de cada tábua. No entanto, ainda assim, tropecei de súbito algures e caí ao comprido.

Tratava-se de algo de grandes dimensões e dotado de vida própria. Não se tratava de um cão... - mas parecia um carneiro. Mas não vinham animais a bordo do navio. Como seria possível que um animal?.. Sentia-me incapaz de opor resistência àquele horror sobrenatural e excessivo.





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