A Linha de Sombra - Cap. 8: VI Pág. 141 / 155

Puxou-o para fora do caminho, recomendou-lhe que ficasse quieto no sítio onde o deitara e depois veio render-me, perguntando com toda a serenidade:

«Como é que vou governar, comandante?»

«Direito com eles à popa, até ver. Vou buscar-lhe uma luz num instante.»

Mas quando me dirigia para a vante, encontrei Ransome, trazendo uma lanterna de bitácula sobresselente. Aquele homem dava tudo por tudo, encarregava-se de tudo, deixava uma impressão reconfortante à sua volta enquanto trabalhava. Ao passar por mim, observou-me, num tom de consolação, que começavam a aparecer as estrelas. E realmente assim era. O vento ia levando o céu fuliginoso que clareava no silêncio indolente do mar.

Rompera-se aquela barreira de tremenda calmaria que nos cercara como uma maldição dias a fio. Podia-se sentir. Deixei-me cair no banco da escotilha. Uma renda branca de espuma, finíssima, vinha quebrar ao longo do costado. A primeira ao fim de séculos... - ao fim de séculos. Eu teria ficado rejubilante se não fosse o sentimento de culpa que se entretecia no segredo dos meus pensamentos. Ransome estava diante de mim.

«E que se passa agora com o imediato?», perguntei com inquietação. «Ainda está sem sentidos?»

«Ora bem, comandante... - tem graça.» Ransome tinha todo o ar de quem está intrigado. «Não diz uma palavra e tem os olhos fechados. Aquilo dá-me o ar de ser uma espécie de sono de pedra, mais do que outra coisa qualquer,»

Aceitei esta opinião como a que me transtornava menos; era a que menos, em todo o caso, me afligia. Desmaiado ou profundamente adormecido, Burns tinha que ser, de momento, deixado em sossego. Ransome de súbito observou-me:

«Acho que o comandante deve precisar do capote.» «Acho que sim», disse-lhe eu, suspirando profundamente.





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