A Linha de Sombra - Cap. 4: II Pág. 56 / 155

A rota seria prolongada. São demorados todos os caminhos que nos conduzem à consumação dos desejos mais íntimos. Mas o percurso necessário, os olhos do meu espírito podiam-no ver, de modo profissional, com todas as suas complicações e pontos difíceis, sem que ele deixasse, por outro lado, e graças a isso mesmo, de ser bastante simples para mim. Ou se é um homem do mar, ou não. Por mim, não tinha dúvidas de que o era.

A única zona que me não era familiar era a do golfo de Sião. E disse isso mesmo ao capitão Giles. Não era que a coisa me preocupasse por aí além. Fazia parte de uma região cujas características gerais eu conhecia, cujo íntimo espírito me parecia ter sido apreendido já pelos meus olhos ao longo dos últimos meses dessa vida com que acabara de cortar intempestivamente havia pouco, como quem diz adeus a uma companhia encantada.

«O golfo... Ah, pois! E uma região de mar estranha... - essa região», disse o capitão Giles.

Estranha, era, em tais circunstâncias, uma expressão vaga. Aquilo soava-me como a opinião que emite alguém ao mesmo tempo que se acautela contra um eventual processo por difamação.

Não fiz questão de ser elucidado acerca da qualidade dessa estranheza. Realmente, não havia tempo para tanto. Mas, justamente, no último instante, o meu interlocutor tomou a iniciativa de um aviso.

«Mantenha-se sempre do lado de leste. O de oeste é perigoso nesta altura do ano. Não se deixe tentar a ir por lá, por motivo nenhum. Desse lado, só pode deparar com mais trabalhos.»

Embora muito dificilmente pudesse imaginar o que é que havia de tentar-me a meter o meu navio no meio das correntes marítimas e dos recifes rochosos da costa malaia agradeci o conselho.

Então, ele pegou efusivamente na mão que lhe estendi, e as nossas relações pessoais chegaram bruscamente ao seu termo com as palavras: «Boa noite!»,

Foi tudo o que o ouvi dizer-me: «Boa noite!».





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