A Linha de Sombra - Cap. 5: III Pág. 74 / 155

» Burns voou para o tombadilho, arribou o navio, pondo-o com o vento pela popa, e a seguir voltou a descer à câmara, refeito, mas resoluto.

«Soltei o rumo para Pulo Condor, comandante!», disse ele. «Quando lhe chegarmos à vista, se ainda estiver connosco, o senhor há-de dizer-me em que porto quer que eu ponha o navio, e eu farei o que me disser,»

O velho lançou-lhe um olhar de ressentimento bravio e pronunciou as seguintes palavras atrozes, num tom de voz amortecido e vagaroso:

«Se eu fosse senhor da minha vontade, nem o navio nem nenhum de vocês chegava com vida a qualquer porto. E espero que não cheguem.»

Burns sentia-se tremendamente chocado. Estou convencido de que ele, naquela altura, ficou deveras aterrorizado. Parece, todavia, que conseguira largar uma risada, com tanto êxito, que foi a vez de o velho se encher de medo. Encolheu-se todo, virando as costas a Burns.

«E nessa altura, ele ainda não perdera o juízo», garantiu-me o imediato cheio de animação. «O que ele disse correspondia exactamente ao que tinha em mente.»

Aquelas foram, quase, as últimas palavras do falecido capitão. Após este episódio, não voltou a proferir mais nenhuma frase com nexo. Naquela noite, as suas derradeiras energias foram para atirar a rebeca ao mar. Ninguém, é um facto, o viu atirá-la, mas o certo é que depois da sua morte, Burns não conseguiu achar o instrumento em lado nenhum. A caixa vazia encontrava-se bem à vista, mas o violino não estava, era evidente, a bordo. E onde podia estar, senão no mar?

«Deitou o violino pela borda fora?», exclamei eu. «Deitou, sim senhor», afirmou Burns com toda a naturalidade. «E acredito que havia de tentar afundar com ele o navio, se isso estivesse ao alcance da força humana. Não teve nunca intenção de regressar com o barco ao porto de armamento.





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