Entretanto, fechado no camarote e abrigado a um canto do sofá para resistir aos saltos transtornados do navio, o capitão tocava violino... - ou pelo menos fazia com o seu instrumento um barulho ininterrupto.
Quando aparecia cá em cima, nada dizia, e nem sequer respondia sempre que alguém lhe falava. Era claro que adoecera de qualquer mal misterioso, e que começava agora a soçobrar.
A medida que os dias passavam, o som do violino ia ficando cada vez menos alto, até que apenas um débil arranhar chegava por fim aos ouvidos de Burns, quando se punha na câmara à escuta, do lado de fora da porta do camarote do capitão.
Certa tarde, em completo desespero de causa, entrou de repente no camarote e fez uma cena, arrancando os cabelos, e proferindo tão tremendas imprecações que conseguiu impressionar um pouco a indiferença desdenhosa do doente. Os reservatórios da aguada estavam muito baixos, não tinham avançado nem cinquenta milhas de rota em duas semanas. O navio nunca mais chegaria a Hong-Kong.
Insistir no projecto de viagem era o mesmo que lutar sem tréguas pela perdição completa do navio e dos seus tripulantes. Isso era indubitável, nem valia a pena discutir. Burns, deixando de lado todas as cerimónias, aproximou o rosto do capitão e disse-lhe aos berros: «O comandante está a despedir-se deste mundo. Mas eu não posso ficar à espera que o senhor morra para depois arribar. E a si que compete fazer isso. E vai fazê-lo já!»;
O homem, reclinado nas almofadas do sofá, rosnou com desdém: «Com que então estou a despedir-me deste mundo... - não é?!!».
«Está, sim, senhor... Já não pode aguentar muitos dias... », disse Burns, sossegando. «Basta olhar para a sua cara para se perceber.»
«A minha cara, eh?.. Bom, arribe e vá para o diabo.