A Linha de Sombra - Cap. 5: III Pág. 79 / 155

Sim. Tinha as mãos a abarrotar de complicações, com grande valor como «a experiência». Toda a gente tem uma excelente opinião acerca dos benefícios da experiência. Mas, de facto, a experiência significa sempre algo de desagradável, contrariando a sedução e a candura das ilusões.

Devo confessar que estava a perder as minhas rapidamente. Mas no que se refere às dificuldades cheias de ensinamentos que sofria, não quero alargar-me mais do que é necessário para as poder resumir numa só palavra: demora.

A humanidade que forjou o provérbio «tempo é dinheiro» compreenderá a minha contrariedade. A palavra demora penetrou na intimidade mais oculta do meu cérebro, ressoando como um sino a badalar até desvairar os ouvidos, afectando todo o meu entendimento, assumindo uma cor negra, um gesto amargo, um sentido mortal.

«Realmente lamento vê-lo afligir-se assim. Lamento, deveras...»

Estas foram as únicas palavras de compaixão que pude ouvir durante todo aquele tempo. E, de modo perfeitamente adequado, chegaram-me da boca de um médico.

Um médico é, por definição, compassivo. Mas aquele era-o também na realidade. As suas palavras não eram uma obrigação profissional. Eu não estava doente. Mas outras pessoas estavam-no, e era esse o motivo das suas visitas a bordo.

Tratava-se de um médico da nossa legação e, evidentemente, também do consulado. Tratava da gente de bordo, cuja saúde, regra geral, era fraca e se apresentava, se assim se pode dizer, como que vacilante, à beira da derrocada. Sim. Os homens passavam mal. Por isso o tempo era não só dinheiro, como igualmente vida.

Eu nunca tinha visto uma tripulação tão bem comportada. Isso mesmo me fazia o médico notar, dizendo: «O senhor parece ter aqui um conjunto de marinheiros dignos de toda a nossa estima».





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