A Linha de Sombra - Cap. 2: I Pág. 9 / 155

O capitão abriu os olhos de espanto sem conseguir compreender o que me dera. Mas era um marinheiro e também ele fora outrora jovem. Não tardaria que um sorriso se lhe disfarçasse por baixo do bigode abundante e grisalho, observando que, evidentemente, se eu achava que tinha que me ir embora, não podia reter-me pela força. Ficou assim combinado que receberia o meu soldo e a carta de desembarque no dia seguinte, logo de manhã. Quando eu estava a sair da casa de pilotagem acrescentou de súbito, num tom singular e pensativo, que esperava que eu encontrasse aquilo de que ia em busca com tanta ansiedade. Foram palavras suaves e repassadas de enigma que me pareceram de uma força de penetração mais profunda que a de uma ferramenta com têmpera de diamante. Penso que ele compreendeu o que se passava comigo.

Mas o segundo engenheiro atirou-se a mim de modo completamente diferente. Era um escocês bastante novo ainda, robusto, de rosto corado e olhos azuis. O seu rosto sério e em fogo apareceu a subir da escada da casa das máquinas, e atrás do rosto surdiu toda a sua figura vigorosa, com as mangas da camisa arregaçadas, limpando devagar o antebraço com um pedaço de desperdício. E os seus olhos claros mostravam um descontentamento amargo como se a nossa amizade estivesse reduzida a cinzas. Disse com ar grave: «Ah, sim senhor! Eu bem andava a pensar que ia sendo tempo de você se pôr a mexer para terra, para se ir casar com a tola de uma rapariga qualquer».

Sabiam todos no porto tacitamente que John Nieven era ferozmente misógino, e o absurdo daquela sua tirada convenceu-me de que tinha querido tratar-me mal... ser muito desagradável- que tinha querido dizer-me a coisa pior que lhe passasse pela cabeça. Dei uma gargalhada em tom conciliador.





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