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Capítulo 2: I

Página 10
Ninguém, a não ser um verdadeiro amigo, podia mostrar-se mais zangado. Senti-me um pouco acabrunhado. O nosso primeiro engenheiro também considerou o meu acto de modo significativo, mas com um maior espírito de benevolência para comigo.

Tratava-se igualmente de um homem novo, mas ao contrário do segundo engenheiro, era muito magro e tinha uma sombra de barba acastanhada e macia a rodear-lhe a cara inteira, as faces chupadas e os olhos encovados. Durante todo o dia, tanto no mar como nos portos, podíamos vê-lo a passear apressado, para trás e para diante, no tombadilho, mostrando na fisionomia uma expressão terna, de concentração mental, resultante de uma permanente consciência de certas impressões corporais desagradáveis oriundas do seu sistema interno. Tratava-se, realmente, de um dispéptico crónico. A sua opinião a meu respeito era extremamente simples. Declarou que aquilo não passava de um desarranjo do fígado~ Evidentemente! Propôs-me que ficasse a bordo para a próxima viagem e que, entretanto, tomasse uma preparação farmacêutica que ele conhecia e em que confiava absolutamente. «Bem, ouça lá o que eu vou fazer. Vou comprar dois frascos disso para si, pagos do meu bolso. Aí está o que é. Acha que posso ser mais leal do que isto, vá, diga lá.»

Estou profundamente convencido de que ele era mesmo capaz de praticar esse acto de atrocidade (ou de generosidade) se houvesse o menor sinal de fraqueza da minha parte. Mas desta vez eu tinha ficado mais desconsolado, mais triste e com mais mau humor do que nunca. Os últimos dezoito meses, tão cheios de experiências, todas elas novas e variadas, pareciam-me agora uma perda de tempo, melancólica e prosaica. Sentia dentro de mim... - como hei-de dizê-lo? - que nada de autêntico seria possível tirar daquilo.

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Capa do livro A Linha de Sombra
Páginas: 155
Página atual: 10

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Nota do autor 1
I 6
II 42
II 43
III 64
IV 90
V 106
VI 129