A Princesa da Babilónia - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 28 / 82

Formosante compreendeu que não era a mais forte; sabia que o bom senso consiste em conformar-se com a situação; tomou o partido de livrar-se do rei do Egito por meio de uma inocente esperteza; olhou-o com o rabo do olho, o que vários séculos depois se chamou namorar; e eis como lhe falou, com uma modéstia, uma graça, uma doçura, um embaraço e uma multidão de encantos que teriam enlouquecido o mais sábio dos homens e cegado o mais clarividente:

- Confesso, senhor, que sempre baixei os olhos perante vós quando destes ao rei meu pai a honra de ir a seu palácio. Temia o meu coração, temia a minha ingênua simplicidade: temia que meu pai e vossos rivais se apercebessem da preferência que eu vos concedia e tanto merecíeis. Posso agora entregar-me a meus sentimentos. Juro pelo boi Ápis, que é, depois de vós, o que mais respeito no mundo, que as vossas propostas me encantaram. Já ceei convosco no palácio de meu pai; e de novo o farei, sem a sua presença; só o que peço é que o vosso esmoler-mor beba connosco; pareceu-me em Babilônia um esplêndido conviva; tenho excelente vinho de Chiraz, quero que ambos o experimentem. Quanto à vossa segunda proposta, é muito tentadora, mas não convém, a uma moça bem-nascida, falar em tais coisas; baste-vos saber que eu vos considero como o maior dos reis e o mais amável dos homens.

Essa fala virou a cabeça do rei do Egito; concordou em que o esmoler-mor fosse o terceiro à mesa.

- Desejo ainda outro favor - disse-lhe a princesa. - É uma permissão vossa para que o meu boticário venha falar-me; as moças sempre têm certos pequenos incômodos, que demandam certos cuidados, como tonturas, palpitações, cólicas, faltas de ar, em que é preciso pôr certa ordem em certas circunstâncias.





Os capítulos deste livro