Em meio dos jardins, entre duas cascatas, elevava-se um salão oval de trezentos pés de diâmetro, cuja abóbada de lápis-lazúli, semeada de estrelas de ouro, representava todas as constelações com os planetas, cada qual no seu verdadeiro lugar, e essa abóbada girava como o céu, por meio de máquinas tão invisíveis como aquelas que dirigem os movimentos celestes. Cem mil archotes, encerrados em cilindros de cristal de rocha, alumiavam o exterior e o interior da sala de jantar. Um aparador em degraus sustentava vinte mil vasos ou pratos de ouro; e defronte ao aparador havia outros degraus repletos de músicos. Dois outros anfiteatros se achavam carregados, um com os frutos de todas as estações, o outro de ânforas de cristal onde brilhavam todos os vinhos da terra.
Os convivas acomodaram-se em torno à mesa, cujos assentos eram separados por grinaldas de pedras preciosas, que figuravam flores e frutos. A bela Formosante foi colocada entre o rei das Índias e o do Egito, a bela Aldeia perto do rei dos citas. Havia cerca de trinta príncipes e cada um deles se achava ao lado de uma das mais belas damas do palácio. O rei de Babilônia, ao centro, defronte à filha, parecia dividido entre o pesar de não a ter casado e o prazer de ainda a conservar consigo. Formosante pediu licença para ficar com o pássaro a seu lado, na mesa, o que o rei achou muito bem.
A música, que começou a tocar, deu a cada príncipe inteira liberdade para entreter a sua vizinha. O festim pareceu tão agradável quão magnífico. Tinham posto diante de Formosante um petisco que o rei seu pai muito apreciava. A princesa disse que o deviam levar a Sua Majestade. E imediatamente o pássaro se apodera do prato, com maravilhosa destreza, e vai apresentá-lo ao rei. Nunca se espantaram tanto numa ceia. Belus fez-lhe tantas carícias quanto a filha.