Passou a noite inteira a falar de Amazan. Não o chamava senão de seu pastor; é desde esse tempo que os nomes de pastor e enamorado são sempre empregados um pelo outro em algumas nações. Ora perguntava ao pássaro se Amazan tivera outras amadas. Este respondia que não, e ela sentia-se no auge da alegria. Ora queria saber como passava ele a vida, e ouvia, transportada, que a empregava a fazer o bem, a cultivar as artes, a penetrar os segredos da natureza, e a aperfeiçoar o espírito. Ora queria saber se a alma de seu pássaro era da mesma natureza que a de seu amado; por que vivera o primeiro cerca de vinte e oito mil anos, ao passo que o último não tinha mais que dezoito ou dezanove. Fazia mil perguntas semelhantes, às quais o pássaro respondia com uma discrição que lhe espicaçava a curiosidade. Afinal o sono lhes fechou os olhos e entregou
Formosante à doce ilusão dos sonhos enviados pelos deuses, que ultrapassam às vezes a própria realidade, e que toda a filosofia dos caldeus tem tanto trabalho em interpretar. Formosante acordou-se muito tarde. Para ela ainda era cedo, quando o pai entrou no seu quarto. O pássaro recebeu Sua Majestade com respeitosa polidez, foi ao seu encontro, ruflou as asas, alongou o pescoço, e voltou para a sua laranjeira. O rei sentou-se no leito da filha, a quem os sonhos haviam tornado ainda mais bela. Sua grande barba branca aproximou-se daquele lindo rosto e, depois de lhe dar dois beijos, ele lhe falou nos seguintes termos:
- Ontem, minha filha, não pudeste achar um marido como eu desejava; no entanto, precisas de um; assim o exige o futuro do Império. Consultei o oráculo, que, como bem sabes, não mente nunca e dirige todos os meus atos. Ele me ordenou que te fizesse correr mundo. É preciso que viajes.