De província em província, sempre repelindo provocações de toda espécie, sempre fiel à princesa de Babilônia, sempre em cólera contra o rei do Egito, chegou aquele modelo de constância à nova capital das Gálias. Passara esta cidade, como tantas outras, por todos os graus da barbárie, da ignorância, da tolice e da miséria. O seu primeiro nome fora lama e excremento; depois tomara o de Isis, do culto de Isis, que chegara até ela. Seu primeiro senado fora uma companhia de barqueiros. Estivera por muito tempo escravizada aos heróis depredadores das sete montanhas; e, alguns séculos depois, outros heróis salteadores, vindos da margem ulterior do Reno, se haviam apoderado de seu pequeno solo.
O tempo, que transforma tudo, fizera dela uma cidade cuja metade era muito nobre e agradável, e a outra um pouco grosseira e ridícula: eram os atributos de seus habitantes. Havia no seu recinto cerca de cem mil pessoas pelo menos que não tinham nada que fazer senão jogar e divertir-se. Esse povo de ociosos julgava as artes que os outros cultivavam. Nada sabiam do que se passava na Corte; embora ficasse esta apenas a quatro escassas milhas dali, era como se estivesse pelo menos a umas seiscentas milhas. As doçuras da sociedade, a alegria, a frivolidade, eram o seu único e importante negócio: governavam-nos como a crianças a quem se enche de brinquedos para as impedir de chorar. Se lhes falavam dos horrores que, dois séculos antes, haviam desolado a sua pátria e dos espantosos dias em que metade da nação massacrava a outra por causa de sofismas, diziam que na verdade aquilo não estava direito; e depois punham-se a rir e a cantar.
Quanto mais corteses, divertidos e amáveis se mostravam os ociosos, tanto mais triste era o contraste que se observava entre eles e os ocupados.