Formosante e Irla passaram por entre as fileiras dos soldados que, tomando a princesa pelo grão-Sacerdote, a chamavam de Meu Reverendíssimo Pai em Deus e lhe pediam a bênção. As duas fugitivas chegam em vinte e quatro horas a Baçorá, antes que o rei houvesse despertado. Deixaram então os disfarces, que poderiam despertar suspeitas. Fretaram imediatamente um navio que as levou, pelo estreito de Ormuz, às belas ribas do Éden, na Arábia Feliz. Desse Éden, cujos jardins eram tão famosos, foi que se fez depois a morada dos justos: foram o modelo dos Campos Elísios, dos jardins das Hespérides e dos das Ilhas Afortunadas; pois, naqueles climas quentes, não imaginam os homens maior beatitude que as sombras e o murmúrio das águas. Viver eternamente com o Ser Supremo, ou ir passear pelo jardim no paraíso, dava no mesmo para os homens, que falam sempre sem entender-se e ainda não puderam ter ideias nítidas nem expressões justas.
Logo que ali se encontrou, o primeiro cuidado da princesa foi prestar ao seu querido pássaro as honras fúnebres que este lhe exigira. Suas belas mãos ergueram uma pira de cravo e canela. Qual não foi a sua surpresa quando, depois de espalhar sobre essa lenha as cinzas do pássaro, a viu acender-se por si mesma! Tudo se consumiu num instante. Só ficou, no lugar das cinzas, um grande ovo, de que viu sair o seu belo pássaro, mais esplêndido do que nunca.