A Princesa da Babilónia - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 54 / 82

Mais de cem príncipes do sangue dos reis acabaram seus dias no cadafalso. Arrancaram o coração a todos os seus adeptos e bateram-lhes com ele nas faces. Ao carrasco é que competia escrever a história da nossa ilha, pois fora ele quem terminara todas as grandes questões.

»Não faz muito que, para cúmulo do horror, algumas pessoas de manto negro e outros que usavam uma camisa branca por cima da jaqueta foram mordidas por cães raivosos e acabaram comunicando a raiva à nação inteira. Todos os cidadãos foram ou assassinos ou vítimas, ou carrascos ou supliciados, ou depredadores ou escravos, em nome do céu e em busca do Senhor. Quem diria que desse abismo temeroso, desse caos de dissensões, de atrocidades, de, ignorância e de fanatismo tenha resultado talvez o mais perfeito governo que hoje existe no mundo? Um rei venerado e rico, todo-poderoso para fazer o bem, impotente para fazer o mal, está à frente de uma nação livre, guerreira, comerciante e esclarecida. Os grandes de um lado, e os representantes das cidades de outro, compartilham da legislação com o monarca.

»Vira-se, por singular fatalidade, a desordem, as guerras civis, a anarquia e a pobreza assolarem o país quando os reis exerciam o poder arbitrário. A tranquilidade, a riqueza, a felicidade pública, só reinaram entre nós quando os reis reconheceram que não eram absolutos. Tudo estava subvertido quando disputavam sobre coisas ininteligíveis; tudo entrou em ordem depois que as desprezaram. Nossas frotas vitoriosas levam a nossa glória a todos os mares, e as leis põem em segurança as nossas fortunas; jamais um juiz as pode interpretar arbitrariamente; jamais se dá uma sentença que não seja motivada. Puniríamos como assassinos os juízes que ousassem condenar um cidadão à morte sem invocar os testemunhos que o acusam e a lei que o condena.

»É verdade que há sempre, entre nós, dois partidos que se combatem com a pena e com intrigas; mas também se reúnem sempre que se trata de pegar em armas para defender a pátria e a liberdade.





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