A alma é matéria, dizem outros. Porém, o que é matéria? Só conhecemos algumas de suas aparências e algumas de suas propriedades; e nenhuma destas propriedades e aparências parece ter a menor relação com o pensamento.
Há também quem opine que a alma está formada de algo distinto da matéria. Porém que provas temos disso? Se funda tal opinião em que a matéria é divisível e pode tomar diferentes aspectos, e o pensamento não. Porém, quem teria dito que os primeiros princípios da matéria sejam divisíveis e figuráveis? É muito verossímil que não o sejam; seitas inteiras de filósofos sustentam que os elementos da matéria não têm forma nem extensão. O pensamento não é madeira, nem pedra, nem areia, nem metal, logo o pensamento não pode ser matéria. Mas esses são raciocínios débeis e atrevidos. A gravidade não é metal, nem areia, nem pedra, nem madeira; o movimento, a vegetação, a vida, não são nenhuma dessas coisas; e, sem dúvida, a vida, a vegetação, o movimento e a gravitação são qualidades da matéria. Dizer que Deus não pode conseguir que a matéria pense, é dizer o absurdo mais insolente que se tenha proferido na escola da demência. Não estamos certos de que Deus tenha feito isso; porém estamos certos de que poderia fazê-lo. Que importa tudo o que se tenha dito e o que se dirá sobre a alma? Que importa que a tenham chamado entelequia, quintessência, chama ou éter; que a tenham tomado por universal, incriada, transmigrante, etc., etc?