É a poesia a murmurar-lhe na alma
Última nota de quebrada lira;
É o gemido do tombar do cedro;
É triste adeus do trovador que expira.
DESESPERANÇA
Meia-noite bateu, volvendo ao nada
Um dia mais, e caminhando eu sigo!
Vejo-te bem, ó campa misteriosa...
Eu vou, eu vou! Breve serei contigo!
Qual tufão, que ao passar agita o pego,
Meu plácido existir turvou a sorte:
Hálito impuro de pulmões ralados
Me diz que neles se assentou a morte:
Enquanto mil e mil no largo mundo
Dormem em paz sorrindo, eu velo e penso,
E julgo ouvir as preces por finados,
E ver a tumba e o fumegar do incenso.
Se dormito um momento, acordo em sustos;
Pulos me dá o coração no peito,
E abraço e beijo de uma vida extinta
O último sócio, o doloroso leito.
De um abismo insondado às agras bordas
Insanável doença me há guiado,
E disse-me: «No fundo o esquecimento:
Desce; mas desce com andar pausado.