O Cortiço - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 151 / 239

loa que o fazia, que aquele mesmo não metia prego sem estopa! Tanto assim que uma vez, em que os dois saíram à tardinha para dar um giro até à praia, Botelho, depois de falar com o costumado entusiasmo do seu belo amigo Barão e da virtuosíssima família deste, acrescentou com o olhar fito:

— Aquela pequena é que lhe estava a calhar, seu João!...

— Como? Que pequena?

— Ora morda aqui! Pensa que já não dei pelo namoro?... Maganão! O vendeiro quis negar, mas o outro atalhou:

— É um bom partido, é! Excelente menina... tem um gênio de pomba... uma educação de princesa: até o francês sabe! Toca piano como você tem ouvido... canta o seu bocado... aprendeu desenho... muito boa mão de agulha!... e...

Abaixou a voz e segredou grosso no ouvido do interlocutor:

— Ali, tudo aquilo é sólido!... Prédios e ações do banco!...

— Você tem certeza disso? Já viu?

— Já! Palavra d’honra!

Calaram-se um instante.

Botelho continuou depois:

— O Miranda é bom homem, coitado! tem lá as suas fumaças de grandeza, mas não o podemos criminar... são coisas pegadas da mulher; no entanto acho-o com boas disposições a seu respeito... e, se você souber levá-lo, apanha-lhe a filha...

— Ela talvez não queira...

— Qual o quê! Pois uma menina daquelas, criada a obedecer aos pais, sabe lá o que é não querer? Tenha você uma pessoa, de intimidade com a família; que de dentro empurre o negócio e verá se consegue ou não! Eu, por exemplo!

— Ah! se você se metesse nisso, que dúvida! Dizem que o Miranda só faz o que você quer...

— Dizem com razão.

— E você está resolvido a... ?

— A protegê-lo?... Sim, decerto: neste mundo estamos nós para servir uns aos outros!... apenas, como não sou rico...

— Ah! Isso é dos livros! Arranje-me você o negócio e não se arrependerá...

— Conforme, conforme...

— Creio que não me supõe um velhaco!...

— Pelo amor de Deus! Sou incapaz de semelhante sacrilégio!

— Então!...

— Sim, sim... em todo o caso falaremos depois, com mais vagar...





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