Não é sangria desatada!
E desde então, com efeito, sempre que os dois se pilhavam a sós discutiam o seu plano de ataque à filha do Miranda. Botelho queria vinte contos de réis, e com papel passado a prazo de casamento; o outro oferecia dez.
— Bom! então não temos nada feito... resumiu o velho. Trate você do negócio só por si; mas já lhe vou prevenindo de que não conte comigo absolutamente... Compreende?
— Quer dizer que me fará guerra...
— Valha-me Deus, criatura! não faço guerra a ninguém! guerra está você a fazer-me, que não me quer deixar comer uma migalha da bela fatia que lhe vou meter no papo!... O Miranda hoje tem para mais de mil contos de réis! Agora, fique sabendo que a coisa não é assim também tão fácil, como lhe parece talvez...
— Paciência!
— O Barão há de sonhar com um genro de certa ordem!... Ai algum deputado... algum homem que faça figura na política aqui da terra!
— Não! melhor seria um príncipe!...
— E mesmo a pequena tem um doutorzinho de boa família; que lhe ronda muito a porta... E ela, ao que parece, não lhe faz má cara...
— Ah! nesse caso é deixá-los lá arranjar a vida!
— É melhor, é! Creio até que com ele será mais fácil qualquer transação...
— Então não falemos mais nisso! Está acabado!
— Pois não falemos!
Mas no dia seguinte voltaram à questão:
— Homem! disse o vendeiro; para decidir, dou-lhe quinze!
— Vinte!
— Vinte, não!
— Por menos não me serve!
— E eu vinte não dou!
— Nem ninguém o obriga... Adeuzinho!
— Até mais ver.
Quando se encontraram de novo, João Romão riu-se para o outro, sem dizer palavra. O Botelho, em resposta, fez um gesto de quem não quer intrometer-se com o que não é da sua conta.
— Você é o diabo!... faceteou aquele, dando-lhe no ombro uma palmada amigável. Então não há meio de chegarmos a um acordo?...
— Vinte!
— E, caso esteja eu pelos vinte, posso contar que...?
— Caso o meu nobre amigo se decida pelos vinte, receberá do Barão um chamado para lá ir jantar ao primeiro domingo;