dois cálices de conhaque.
— Olhe, acrescentou o Botelho; você nem precisa dizer palavra... faça como coisa que não tem nada com isso, compreende?
— E se o homem quiser os ordenados de todo o tempo em que ela esteve em minha companhia?...
— Como, filho, se você não a alugou das mãos de ninguém?!... Você não sabe lá se a mulher é ou era escrava; tinha-a por livre naturalmente; agora aparece o dono, reclama-a e você a entrega, porque não quer ficar com o que lhe não pertence! Ela, sim, pode pedir o seu saldo de contas; mas para isso você lhe dará qualquer coisa...
— Quanto devo dar-lhe?
— Aí uns quinhentos mil-réis, para fazer a coisa à fidalga.
— Pois dou-lhos.
— E feito isso — acabou-se! O próprio Miranda vai logo, logo, ter com você! Verá!
Iam falar ainda, mas o bonde de São Clemente acabava de chegar, assaltado por todos os lados pela gente que o esperava. Os dois só conseguiram lugar muito separados um do outro, de sorte que não puderam conversar durante a viagem.
No Largo da Carioca uma vitória passou por eles, a todo o trote. Botelho vergou-se logo para trás, procurando os olhos do vendeiro, a rir-se com intenção. Dentro do carro ia Pombinha, coberta de jóias, ao lado de Henrique; ambos muito alegres, em pândega. O estudante, agora no seu quarto ano de medicina, vivia à solta com outros da mesma idade e pagava ao Rio de Janeiro o seu tributo de rapazola rico.
Ao chegarem à casa, João Romão pediu ao cúmplice que entrasse e levou-o para o seu escritório.
— Descanse um pouco... disse-lhe.
— É, se eu soubesse que eles se não demoravam muito ficava para ajudá-lo.
— Talvez só venham depois do jantar, tornou aquele, assentando-se à carteira.
Um caixeiro aproximou-se dele respeitosamente e fez-lhe várias perguntas relativas ao serviço do armazém, ao que João Romão respondia por monossílabos de capitalista; interrogou-o por sua vez e, como não havia novidade, tomou Botelho pelo braço e convidou-o a sair.
— Fique para jantar. São quatro e meia, segredou-lhe na escada.
Já não era preciso prevenir lá