Sim, à luz da alvorada e em plena primavera,
Ver só o insecto vil, que rói a bela flor,
(Em despeito do estilo e da rima severa)
Não se faz sem sofrer... tu conheces a dor!
Tu sabes o que é dor, ó sereno estilista!
Sob o fraque do dândi há em ti, bem o vês,
Um poeta, um leão, um demónio, que o artista
Pode a custo conter, domar, calcar aos pés!
Considero esse olhar indizível e fito,
E esse lábio cruel... e parece-me ouvir:
- «Nesta vida sem Deus, neste mundo maldito,
Já não há que chorar... o melhor é sorrir!» -
Habita dentro em ti, mudo mas implacável,
Como um remorso antigo, um pensamento atroz...
É o velho pecado, a herança inexpiável
Do mal das gerações, dos vícios dos avós!
És o símbolo, tu, d'um século fantasma,
Tão sábio que é ateu, e já não quer chorar...
Que tem cãs sem ser velho, e que de nada pasma,
Olhando o mundo à luz do gás do Boulevard...